Conflito no processo psicoterapêutico

Engana-se quem pensa que não deve existir conflito no processo psicoterapêutico.

---

Uma leitura recomendada na minha formação em Gestalt-terapia faz a discussão do mito do bom sujeito. Nessa categoria, encontram-se os psicoterapeutas bonzinhos juntamente com os bons pacientes. A figura do psicoterapeuta bonzinho aglomera atitudes de bondade e total apoio às demandas do consulente/paciente. Uma acolhida incondicional, prontos a beneficiar e deixar o paciente confortável em qualquer situação. Do outro lado, os bons pacientes estão prontos para seguir qualquer recomendação ou aderir a qualquer fala do psicoterapeuta.

Eu não tenho dúvidas de que muitos processos são mediados pela bondade incondicional de ambas as partes.

Na minha própria clínica já fui a psicoterapeuta boazinha com medo de causar desconforto no meu consulente. Esse medo ainda existe. Mas, tenho o encarado de uma outra maneira.

O que se ganha com um processo psicoterapêutico totalmente pacífico?

Quais são as possibilidades de mudanças quando se tem alguém ao seu lado que está sempre pronto para passar a mão na sua cabeça?

Qual a chance de crescimento sem o conflito durante a relação?

Veja, é importante diferenciar aqui conflito de desrespeito ou atitudes violentas.

Entendamos conflito com a possibilidade de divergências e desconfortos, necessários para o crescimento. O desconforto e a divergência nos dão chão para nos mobilizar de alguma maneira; chance de movimento.

Ora, se tudo o que você traz à sessão, existe uma outra pessoa que está sempre apaziguando e lhe dizendo que está tudo bem, da onde surge possibilidade de outros movimentos? A tendência, provavelmente, é que você continue repetindo e repetindo aquilo que você traz e se queixa sem nenhum tipo de senso crítico.

A abertura para o conflito, divergências e desconfortos nos dão coragem para uma agressividade criativa!

A leitura foi do livro: Agressividade Criativa, de George Bach e Herb Goldberg